segunda-feira, 25 de abril de 2016

Trinta e Seis Graus

Súplica pela coragem que já não tenho pra expressar o que não devo. Será que o contexto de inserção do todo é tão inalmejável? Quiça fora, esperava o habitante regular comum com nenhum pensamento abstrato. Esperava dar a hora de representar seus medos e dúvidas e contradições e karmas em um único escrito. Um tão profundo que disseminaria sua ideia aos leitores de tal. Como contorná-los, como entendê-los e, principalmente, como afogá-los. 
Exaltou um último parágrafo sobre a sua realidade. O quanto as pessoas ao seu redor pareciam fúteis e complexas. O quanto esperava que largassem de tudo e pensassem por um minuto sobre o seu ambiente e sua casa. E ficou imóvel como os objetos ao seu redor. 
A impossível tarefa se estendia diante de si por claros altos e enegrecedores baixos. Escrever já lhe era um refúgio e uma convenção, mais do que uma reflexão. Procurava em terrenos hostis, em cada sentimento dentro, e nada mais via do que caos. Adotou temáticas para explicar, sobrepôs pensamentos e direcionou a linguagem a seu bel-prazer a fim de externalizar aquele perjúrio de seu próprio deus interior.
Acabou por se afogar em mais indiferença. Não obstante a sua própria, ainda sofria a dos outros. Congelados no olhar de desprezo pelo pensar, eles rumavam felizes com suas vidas artificiais, em que emoções eram adquiridas por objetos sem, em que soluções eram dadas, músicas mastigadas, caminhos apontados, apatias generalizadas e a loucura era normal.
Decidiu afastar-se do seu próprio mundo. Seu império de palavras, pronto para conflitar com o restante da sua vida. Olhou para a ignorância e lhe deu um beijo. Ela ficou com ele e ele se acomodou.

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