segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Pré-começo

Sênior em de-ja-vu
Sempre que frente, trás
Traz o passado futuro
À sua primeira memória

Conta invertido o tempo
Gota por gota retirada
Dois fluxos reversos são
Lembrança e envelhecimento

Segundo e não primeiro
Minuto sem pensar
Sem fim chega o começo
Ciclo infinito a quebrar

Torrente de indignação
Quando viu, já se foi
Agora já era tarde
Pra entender

terça-feira, 17 de junho de 2014

Tartaruga

Paciência nunca foi meu forte, escrita na mesma frase da decepção. Não é de hoje que a esperança morre e eu fico aqui olhando o resto do mundo girar. Meio que na marra, a calma me invade e me expõe, a passos curtos, que não se pode correr no pixe. Pixe é um bom adjetivo pra tudo que me cola nesse chão e não me deixa alcançar o vento. E é voando que eu gostaria de estar.
Eu não pedi pela letargia que me invade com essa força extrema. A organização depende da vontade. A vontade depende do ritmo, e o ritmo da organização. Essas pequenas tríades definem o cotidiano da mesmice que prende toda e qualquer alma. Quando libertas ficam inquietas, por nunca terem experimentado tal grau de serenidade.
Sim, um extremo causa o outro. Exemplos na física, exemplos na biologia, exemplos na matemática. Isso é de praxe quando se espera algo de bom acontecer. E acontecer é uma espécie de quebra no fluxo natural que as coisas têm. As coisas têm muita coisa em comum. Uma delas é o fato de não serem influenciadas pelos extremos, e sim pelo acaso. Diga-se de passagem que o extremo é avesso ao acaso e fácilmente manipulável.
Uma ilusão insegura de que espreitando por dias haja um hiato entre as virtudes e harmonias da morte, é a de que a imunidade me faz alvo fácil para os predadores do ócio. Nunca quis tanto que algo me alcançasse, nunca deixei tanto de tentar conseguir algo que eu queria. Eu não furo meu próprio peito porque meu ego me mantém extremamente ciente das importâncias a mim atribuídas. Mas o acaso sempre estraga o que já foi planejado. Eu escolhi caminhar, e faço isso com certa cautela.

segunda-feira, 12 de maio de 2014

Blues Bleus Blows

Perdendo afeto
Eu desconecto o feto mental
E encontro a raíz do mal
Nesse carnaval de tédio

Eu não completo
Meu whisky velho com gelo
A vida em meio termo é desmazelo

Eu já não sei se o mundo
Me observa, ou se sou eu
Que vejo o mundo girar

Eu já não sei se eu ando
Com meus próprios pés
Ou se os meus pés
Se põem a caminhar

Dinheiro e tempo e paciência
Nunca foram nem serão o meu forte
A morte do inquérito interno
Não tem facela nem norte

Eu conto com o acaso e
Também conto com um pouco de sorte
Jogada nesse chão de concreto
Está a causa do corte

Eu já não sei se o mundo
Me observa, ou se sou eu
Que vejo o mundo girar

Eu já não sei se eu ando
Com meus próprios pés
Ou se os meus pés
Se põem a caminhar
Por si

Pra mudar de vida
A vida toda tem que mudar
Não adianta subir contra corrente
Se no fim, o fim lá não estar

Por qualquer rumo que seja
Qualquer seja o fumo tragado
Não entendo porque estar aqui
Tenha me feito tão estragado

sábado, 29 de março de 2014

Defina Macabro

A moça abriu o guarda-chuva.
Intolerante com os milhões de pingos, cada um representando uma memória gelada. E a hipotermia viria, num lampejo acurado. Mas o caso não foi esse. Dilúvios são raros e suas metodologias são infundadas. O dia nebuloso fechou a cara e mandou algumas palavras fictíceas na forma de raios. E o soprar a fazia cambalear, trocando os joelhos, rodando os ombros, comendo os próprios cabelos.
A estrada inabitada dava círculos completos ao redor da floresta. Há mais de três horas estava andando por ali, e não chegara ao seu destino. Quando se anda em círculos, presta-se menos atenção ao que se está na frente. E a verdade é que olhar pra frente é quase tudo o que te mantém vivo.
Hábito por hábito. Estar em desvantagem natural ao meio inserido, quase que um boneco sendo brincado. E essa falta de controle é viciante. Quem não controla a própria sina, não respalda o ego, e não tem obrigação mortal de existir.
Ainda que tudo indicasse que a maestria reverberante do não-saber a acompanhasse, a intransigência ressurgiu e levou seu guarda-chuva. Petrificou. Precisava de abrigo. Encontrou a casa de um caçador, feita de troféus, conquistas e competições. Não lembrava de onde vinha. Nem pra onde ia.
Bebeu uma tigela de sopa. Despiu-se. Acordou.
A gravidade da gravidez gravitacionava para o pensamento isolado. Seria melhor, de uma forma ou outra, mantê-lo aos cuidados maternos, naturais e só. A chuva parou.
O homem não entendeu. Estava acompanhado, depois não, e por não estar continuava em conjunto. O medo foi de não esclarecer e tomou a saída dos fundos. Aquela, dos covardes.
A mulher descobriu que era éter. Tornou a olhar sua barriga inchada, expandida.
Sumiu como as palavras que havia dito.

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Pergaminho da Pauta Plena

A vida é uma orquestra dissonante e o maestro é cruel e certeiro. Ainda que os timbres sejam variados, é beleza insuficiente para encobrir o caos frequente e expontâneo. E no meio dessa empolgação falsa, de "Diabolus in Musica" subentendidos, uma harmonia tosca e fora de compasso brota. Para clarear a vista: um mundo inteiro de interpretes, com cada indivíduo tocando músicas diferentes. 
Rogo ao tempo ido o que a memória falecida me traga o prazer de outrora entrar em concordância com o redor visível. Ao luxo que me foi dado a tempos e esquecido em ternos momentos que não reativo internamente, desejara uma volta plena. Mas fazê-lo ao contrapor o ego é impossível e não se abre mão do mesmo por algo ainda duvidoso.
A rima não me é mais inerente. E já entendi que o devir é só mais um obstáculo pra pular por cima, como eu já fiz com quase todos os outros. E a beleza já não me cativa tanto. Tenho outros planos pra você. 
Tudo isso é uma dança de máscaras Kabuki ao pé do monte Fuji. De preferência em alguma floresta por perto. Aos poucos, suicidam-se os loucos, e os poucos que ficam tornam-se os antigos. Construíram um palco com pedaços quebrados, e a cada passo há perigo de queda.