segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Eu Não Tenho Mais Saúde

Nem sanidade. Eu levanto e deito e levanto, e eu deito e penso em levantar. Aí eu saio do lugar que estava e me pego pensando em outro lugar. Eu saio à noite escura e clareio meus passos sem sol nem luar. Eu compro meu caminho até os outros lugares, mas o imposto é alto. As taxas são resolutas. Sua resolução é baixa e me deixa com dor nos soquetes oculares. Trocarei meus olhos por diamantes.
A dor nem me incomoda mais. Eu é que incomodo a dor. Porque mesmo cego eu não bato as canelas nos meios fios. Eu não prendo meu pescoço nos varais. Eu não faço do meu dia uma tragédia. Eu só não tenho saúde pra mudá-lo. Eu caio sempre num abismo azul. Uma correnteza que me suga como um canudo gigante e colorido.
É de concordância que preciso? Eu não preciso de nada. Sessenta vezes sessenta vezes são vezes que não se repetem. Eu nunca vi o mesmo número duas vezes. Duas vezes sessenta. Cento e sessenta vezes sem ver as vezes passarem. Pulei milhões delas fazendo contas.
Agora eu imagino um lago azul fundo. Ar e chuva. Preencho os cantos da imagem com árvores e raízes. Caiu algo no lago. Água pra todo lado. Era uma pedra preta de outro texto. Sai um homem do lago e diz que acordou, até que em fim. Eu não ligo pro que ele pensa, afinal é só um homem. Se ele fosse filósofo ou músico, quem sabe...
Enfim livre, eu corro entre as montanhas e encontro o povoado tão livre quanto eu. Eles se assustam: nunca viram roupas. E eu nunca tinha os visto. Nem por isso me assustei, povo mesquinho. Simplesmente saio de lá. Não gosto de maus olhados. Eu gosto é de dividir o planeta correndo tão rápido que meus pés derretem as pedras. Pular tão alto que o ar não entra mais nos meus pulmões.
Em época passada, pai não criava filho. Homem não falava com homem. Eu não conhecia o vento. A terra não sentia meus passos.