segunda-feira, 29 de abril de 2013

O Retrato

Abstrato, quase que poluído. Esvaído, em memórias enriquecido.
Se o é grande, tenha surgido o léxico visual após acontecidos milhões de outros fatos. Pois deu-se que no momento de sua criação era um aglomerado instintivo de ataques de tinta. O sentido acomodado em sua caverna saiu para rugir. Uma obra faraônica concluída em duas horas. Despedaçando o estilo austero, característico de seus demais feitios. Adorava o novo estilo. Passava horas tentando imaginar as grandezas ínfimas de sua criação. O retrato possuia mais vida que ele próprio, em toda a sua experiência. Talvez por ter brotado expontaneamente, profundamente, da parte mais escura de seu cérebro, o quadro seja uma máxima de expressão sentimental. Quiçá o sentimento tenha escapado às barreiras e gaiolas criadas por ele, e transparecido em matéria. Queria ter sentido bem assim nas outras. Sabe-se lá quantas dores de cabeça ele enfrentou antes e após a realização. Era muito antigo pra quem tem vontade de correr atrás de tempo perdido. Decepção e corda pra firmar seu fim.

domingo, 14 de abril de 2013

Como se Tornou Simples

O acontecido foi real. Estava ali na minha frente. Eu, tosco, fui lidar com outra coisa, e não dei a atenção necessária. Levei meses pra perceber que já tinha ido. Ninguém quer pagar pra ler lamúrias, então não as procure. Se evitar buscar a dor, ela evita deixá-lo. Será que a dor é que te busca? Dor de quê, não é?
Afinal é mutável, cardeal e desprendida. Que paira sobre os corpos dos outros e espera o momento de agir. "Espera que tua hora vem". Não há música que produza som, quando os que são ouvidos representam soluços. Preza pelo que é bom enquanto não te faz mal.
E enquanto afia a faca do ódio, covarde, ela espera que estejas desprevinido. Desprovido de defesas. Conforme e porquanto estejas caminhando tranquilo, ela virá. Quase que como rotina de dias que se foram, mas que agora o visitam em carros novos e esposas chiques. Dói mais agora?
Não, não dói mais. Já cansou a dor de doer. E o músculo de sentir. E o cérebro de pensar. 
Já está em fase de morte cerebral, coração partido e melancólico.
Não consegue andar sem ver os rostos antigos de dois amigos que já se foram. Um com o outro, mas ele sem os dois. E quando tenta evocar o laço antigo, aquele de longa data, nada o vem. E quando vem usa vestido branco, véu, grinalda, sapato, champagne, mel e filhos. 
Sabedoria é boa enquanto apreciada. Pena que não tenha sido dele.