quinta-feira, 7 de abril de 2011

Onfalos

Coma lava. Cuspa pedras. Entenda o que sinto enquanto ando o dia inteiro. Debaixo desse sol que me escalda, que me esfolia. Nu. Porque a natureza é nua. E mesmo nua é enigmática. Mesmo explícita gorjeia só. Ressoa só, e não muito após isso, só ressoa. Mas que há com o fascínio?
Ande sobre brasas. Pois meus pés eu já não sinto. O sol queimou meu caminho e eu não tenho para onde correr. Uma âncora em meu pescoço. É o cansaço. Respire chumbo e sinta os pulmões gritarem, grudarem, cederem. Entenda que o ar que respira é suficiente apenas para mantê-lo vivo, não mais do que isso, e, quiçá, fazê-lo arder. Sinta os pregos serem pregados em suas costas. É o tempo. Suas mãos são belas, mas é vil sua intenção. O que tende a piorar, piora. Sempre que há uma passagem, ela é atravessada. O nome de todas as coisas é secreto, até que se encontrem todas as coisas. Afogue-se em álcool para aliviar o ressentimento. Esqueça o sono, você é imortal. Um escravo do sucesso. Uma isca para o tédio, e com esse eu me dou muito bem.

Por onde os maremotos destroem cidades, campos de flores se erguem mais tarde.

Razão pela qual milhões e milhões acreditam em recompensa.
Aí, a lava vira mármore, granito. Aí as brazas viram grama, e na grama cuspo meu mármore. Aí a âncora vira asas, para que voe, para que possa ver o céu, a minha lua. Aí os pregos viram cores, das mais variadas. Aí o chumbo vira aroma. E com esse eu me alivio. O ácool vira calor, para que o frio vire uma lenda. E para que a natureza, mesmo nua e crua, faça de homens adultos, sua pequena cria. O tédio me abandonou, tivemos uma briga. Ele acusou o tempo, mas o tempo sabe responder.
Por fim, foi-se embora e me deixou com minha nova amante, a alegria.

PS: Ela é fascinante.
PPS: Andou ganhando uns quilinhos.
PPPS: Já não é a mesma que eu um dia entendi.