sábado, 29 de março de 2014

Defina Macabro

A moça abriu o guarda-chuva.
Intolerante com os milhões de pingos, cada um representando uma memória gelada. E a hipotermia viria, num lampejo acurado. Mas o caso não foi esse. Dilúvios são raros e suas metodologias são infundadas. O dia nebuloso fechou a cara e mandou algumas palavras fictíceas na forma de raios. E o soprar a fazia cambalear, trocando os joelhos, rodando os ombros, comendo os próprios cabelos.
A estrada inabitada dava círculos completos ao redor da floresta. Há mais de três horas estava andando por ali, e não chegara ao seu destino. Quando se anda em círculos, presta-se menos atenção ao que se está na frente. E a verdade é que olhar pra frente é quase tudo o que te mantém vivo.
Hábito por hábito. Estar em desvantagem natural ao meio inserido, quase que um boneco sendo brincado. E essa falta de controle é viciante. Quem não controla a própria sina, não respalda o ego, e não tem obrigação mortal de existir.
Ainda que tudo indicasse que a maestria reverberante do não-saber a acompanhasse, a intransigência ressurgiu e levou seu guarda-chuva. Petrificou. Precisava de abrigo. Encontrou a casa de um caçador, feita de troféus, conquistas e competições. Não lembrava de onde vinha. Nem pra onde ia.
Bebeu uma tigela de sopa. Despiu-se. Acordou.
A gravidade da gravidez gravitacionava para o pensamento isolado. Seria melhor, de uma forma ou outra, mantê-lo aos cuidados maternos, naturais e só. A chuva parou.
O homem não entendeu. Estava acompanhado, depois não, e por não estar continuava em conjunto. O medo foi de não esclarecer e tomou a saída dos fundos. Aquela, dos covardes.
A mulher descobriu que era éter. Tornou a olhar sua barriga inchada, expandida.
Sumiu como as palavras que havia dito.