segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Nuvem

Eu sabia que a camisa estava amassada
Mesmo assim eu quis vesti-la
Eu quis vestir a camisa suja de sangue
Porque minha idéia era pintá-la

Renovar seu vermelho vivo
Pois não foi minha amiga
Que me deu as costas
Pra ela eu ainda sirvo
Como alento pro perigo
Um mural sem coisas postas

Uma nuvem descarregada
Controlada por um jovem
Atingida pela distância
E volta sempre mastigada
Pelo tempo de desordem
Que longe fica da inconstância

Relutante, e de camisa suja
Ele guia a nuvem criada
Ela o segue em sonhos
Ele a aceita por ser viva
Mesmo que ao alto ela marque
O jovem sujo, marcador de contos

Ele a ama. Ela o ama.
Os dois vivem a mesma fantasia
Em que os dois são donos da mesma euforia
Em que a realidade e percepção são a mesma
E as duas juntas formam a oniciência extrema
Que os dois compartilham em profundo regozijo
Entre eles não houve, nem há, qualquer desespero
Ela espera e ele espera que haja mais encontros
Por entre as grandes vielas em que ele vive
Matando uma fantasia por dia
Pra renovar o sangue em sua camisa
Feito de nuvens de um passado não tão distante
Em que os dois se tocavam o coração
Com a mesma facilidade que o vento toca a alma

A nuvem sempre acima, o menino sempre abaixo
Não só de gás, não só de carne.
A verdade é que estar voando pra ele era a melhor sensação.
O mesmo que ela sentia ao tocar o solo em pedaços.
Um carregava o outro em si. Um pedaço de cada vez.

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