sábado, 4 de agosto de 2012

Marcação

-Já terminou?
-Não, ainda não.
-O que falta?
-Nada.
O primeiro dá um passo à frente, e com ansiedade pergunta ainda mais alto:
-Então como não terminou?
O segundo dirige-se à saída do cômodo, e diz ainda na porta:
-Não faltava nada desde o começo.
O primeiro não sabia o que dizer, ficou apenas olhando a parafernalha sobre a mesa. O segundo virou e saiu. Quando ele o fez, o outro sentou e ficou olhando para aquilo, pensando. Parecia entristecido com a falta de problemas, afinal, havia pagado para que o homem os solucionasse. Tirou do bolso um canivete, e começou a tentar ele mesmo arrumar.
Após várias tentativas desistiu. Acabou por deixar em cima da mesa, e dirigir-se à cozinha, para tomar um café. Achou que tudo se iluminaria com a mente um pouco mais agitada, estava focado completamente em seu dilema: como encontrar o problema? 
O segundo voltou, e trouxe algumas sacolas com coisas dentro, colocou-as sobre a mesa e tirou seu conteúdo. Misturando ao que já havia sobre a mesa. Sentiu o cheiro de café recém passado, e foi até a cozinha. 
-Eu trouxe mais.
O primeiro o olhou arregalado. Foi até a sala de entrada e tocou os objetos sobre a mesa.
-E agora, como vai saber? Como vai diferenciar?
-A diferença muitas vezes é a própria indiferença.
Sentou-se o primeiro, sentou-se o segundo. Os dois passaram horas juntando e organizando os objetos, ditados pelo homem mais acostumado a resolver esse tipo de situação. Tempo depois:
-Ok, entendi que está tentando me fazer de idiota. Pare de fazer rodeios e encontre logo o problema.
-Em que parte do objeto você está focado?
O primeiro hesitou:
-Na parte que me é útil, na parte que fará o objeto servir para o que sempre serviu! - respondeu com convicção.
O homem sorriu e disse:
-Para modificar esse objeto e deixá-lo ao seu gosto, terei de arruiná-lo.
-Então qual é o problema?
-Não há. Não com o objeto.
O primeiro mais um vez calou-se, e ficou olhando o trabalho empenhado do homem. Agora com uma expressão mais séria.
-Terminei.


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